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A história da esfiha, do neolítico a D. Pedro II

Você sabia que a esfiha, esse delicioso salgado de origem árabe, tem uma história milenar e que foi trazida ao Brasil pelos imigrantes sírios e libaneses no século XIX? Neste artigo, você vai conhecer a origem, a evolução e a diversidade desse prato que conquistou o paladar dos brasileiros.

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Uma esfiha é um tipo de pão achatado, feito com farinha de trigo, água, sal e fermento, que pode ser coberto ou recheado com carne, queijo, verduras, legumes ou outros ingredientes. A palavra esfiha vem do árabe ṣafīḥa, que significa “folha”, “lâmina” ou “placa fina”.

As esfihas são consumidas em vários países do Oriente Médio, como Líbano, Síria, Turquia, Armênia, Iraque, Irã e Israel, mas também em outras regiões, como os Bálcãs, a África e a América do Sul. Cada lugar tem a sua própria forma de preparar e servir as esfihas, que podem variar no tamanho, no formato, na massa e no recheio.

A origem das esfihas

Não se sabe ao certo quando e onde as esfihas surgiram, mas há evidências de que os pães achatados já eram consumidos há milhares de anos na região do Levante, a porção norte do Oriente Médio, que abrange os atuais Líbano, Síria, Jordânia, Israel e Palestina.

Os povos antigos dessa região usavam chapas metálicas redondas chamadas saj ou fornos cilíndricos chamados tanur para assar os pães, que eram feitos com cereais como trigo, cevada, espelta e milheto. Esses pães eram a base da alimentação desses povos, que os comiam com azeite, mel, queijo, coalhada, frutas secas, ervas e especiarias.

Na Idade Média, com a popularização do furn, um grande forno a lenha semelhante ao de pizza, os pães puderam ser recheados ou cobertos com outros ingredientes, como carne, verduras, legumes, ovos e queijo. Foi assim que surgiram as esfihas, ou lahm b’ajin, que significa “carne com massa” em árabe.

As esfihas eram um prato típico dos beduínos, os nômades do deserto, que criavam ovelhas e cabras e usavam a carne desses animais para fazer o recheio. As esfihas eram fáceis de transportar e de comer, e podiam ser assadas em fogueiras ou em fornos improvisados com pedras.

A evolução das esfihas

As esfihas se espalharam pelo Oriente Médio e por outras regiões, graças às rotas comerciais, às migrações e às conquistas. Cada povo adaptou as esfihas ao seu gosto e à sua cultura, criando diferentes versões do prato.

No Líbano, as esfihas são chamadas de manakish ou manousheh, e são cobertas com queijo, zaatar (uma mistura de tomilho, sumagre e gergelim), carne picada ou espinafre. As esfihas libanesas costumam ser grandes e redondas, e são servidas no café da manhã ou no lanche.

Na Síria, as esfihas são chamadas de sfiha ou lahmajin, e são cobertas com carne moída, cebola, tomate, pinoli, pimenta e especiarias. As esfihas sírias costumam ser pequenas e ovais, e são servidas como aperitivo ou entrada.

Na Turquia, as esfihas são chamadas de lahmacun ou pide, e são cobertas com carne moída, pasta de pimentão vermelho, cebola, salsa, limão e especiarias. As esfihas turcas costumam ser grandes e finas, e são servidas enroladas ou dobradas, com salada e iogurte.

Na Armênia, as esfihas são chamadas de lahmajoun ou lahmajun, e são cobertas com carne moída, cebola, alho, tomate, salsa, pimenta e especiarias. As esfihas armênias costumam ser pequenas e redondas, e são servidas com suco de limão ou sumagre.

A chegada das esfihas ao Brasil

As esfihas chegaram ao Brasil no final do século XIX e início do século XX, trazidas pelos imigrantes sírios e libaneses que vieram para o país em busca de melhores oportunidades de vida. Muitos desses imigrantes se estabeleceram em São Paulo e trabalharam no comércio, como mascates, lojistas e industriais.

Alguns deles também abriram restaurantes e lanchonetes, onde ofereciam as esfihas e outras iguarias da culinária árabe, como kibe, homus, tabule, coalhada seca e charutinho. As esfihas logo caíram no gosto dos brasileiros, que apreciavam o seu sabor e a sua praticidade.

As esfihas brasileiras sofreram algumas modificações em relação às originais, como o uso de carne bovina no lugar da carne de cordeiro, a adição de queijo e a variação dos formatos.

As esfihas abertas, que são mais comuns no Brasil, são feitas com uma massa mais grossa e fofa, e são cobertas com carne, queijo, frango, calabresa, escarola ou outros recheios.

As esfihas fechadas, que são mais tradicionais no Oriente Médio, são feitas com uma massa mais fina e crocante, e são recheadas com carne, queijo, espinafre ou outros ingredientes.

As esfihas são um exemplo de como a gastronomia é um elemento de integração cultural e de valorização da diversidade. As esfihas são um patrimônio da humanidade, que atravessou séculos e continentes, e que continua a encantar e a alimentar as pessoas.

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